segunda-feira, 28 de junho de 2010

Realmente o meu caminho....

.....passa por esquecer Angola definitivamente.
Depois de mais este "sinal", não tenho como ainda duvidar, se é que ainda me restavam algumas dúvidas.

Na madrugada do dia 3, cerca das 2h da manhã, fomos protagonistas de um terrível assalto, eu e o meu marido, à mão armada, dentro da nossa própria casa, na fábrica onde o meu marido trabalha. Depois de nos terem roubado objectos muito importantes e significativos e o produto do trabalho de 1 ano em Angola, fiquei completamente destroçada e sem vontade de cá ficar mais um dia que seja. Felizmente temos viagem de regresso já no próximo mês, o que esperarei com a maior das ansiedades por o meu marido não querer ir já embora mas antes deixar chegar a altura certa.

Não tenho cabeça para escrever mais nada.... logo que esteja noutro local e mais calma, escreverei de certeza o que me vai na alma!!!....

Viana, aos 10 de Junho de 2010.

Decididamente.....

..…. esta minha segunda estadia por Angola, foi das coisas mais frustrantes que alguma vez imaginei me fosse acontecer. E nem sequer falo das condições do país, com toda a sua estrutura decadente no que diz respeito às degradantes condições humanas da população em geral, dos engarrafamentos do trânsito, dos constantes subornos e roubos a que estamos sujeitos, do imenso lixo e buracos que nos tiram a vontade de andar na rua, enfim…. O que mais me tem deitado abaixo e me deixa completamente desgastada, é a constante hipocrisia, falsidade, prepotência com que me deparo diariamente. São desilusões atrás de desilusões, “baldes de água fria” em cima de “baldes de água fria” (e a água fria aqui até sabe bem, com tanto calor!!), e isto… desde que cá cheguei há quase 4 anos atrás. Estou completamente esgotada, sem vontade de fazer nada (embora todos os dias dê o meu melhor no trabalho que estou a fazer, porque gosto do que estou a fazer!!), sem ânimo, sem entusiasmo com nada, esgotada….perfeitamente esgotada. Ainda se tivéssemos que estar aqui por alguma razão especial como por dificuldades económicas, fuga do nosso país ou de alguém por qualquer motivo, mas não!!!... Graças a Deus não temos nenhum problema de maior!! Não quero dizer com isto que estamos ricos ou não precisamos de todo de ter dinheiro, claro que precisamos, pois ainda temos obras a fazer em casa e muita coisa a remodelar, mas desde que tenhamos para o essencial, custa-me estar aqui a viver uma vida que eu não quero, num ambiente que não tolero…. E estar sujeita a ser aquilo que não sou!!... E eu gosto muito de ser como sou… não dou muito, só o que tenho ou o que posso, não prometo, só o que quero ou posso cumprir, não sou esfusiante, interesseira ou engraxadora, sou como sempre fui e gosto muito de ser assim. Há só uma coisa que eu não gosto na minha maneira de ser que é, o não me lembrar ou não ser capaz de dizer o que tenho a dizer na hora!!... às vezes até é bom que assim seja, para não me arrepender mais tarde de alguma coisa que tenha dito de impulso, mas na maioria das vezes devia responder na mesma altura e não me vem o que dizer na hora. Só tenho pena disso em toda a minha maneira de ser. Mas fazer como, se sou mesmo assim?!... A minha maior tristeza, é que as pessoas não sejam leais, sinceras, e elas mesmas. Tenho mesmo muita dificuldade em lidar com falsidade, mentira, e ficção… (como eu costumo dizer!!), ficção, é das coisas que mais me irrita…. não gosto, não quero saber de coisas que não são verdadeiras, que são falsas ou ilusórias. Para mim só a realidade… a verdade!!... Ilusão…. Não está com nada!! Por tudo isto, estes quase 4 anos em Angola vão ser de má memória para mim. O que me vale, e isso é outro ponto que tenho a meu favor, é que me esqueço depressa das coisas que vão passando. Por vezes até gostaria de me lembrar disto ou daquilo, mas a minha memória esquece facilmente. Sempre foi assim… Por isso espero esquecer rapidamente e com uma pincelada bem grossa estes anos, e conservar apenas o que de melhor aqui pude aprender, e ver. Com toda a certeza, as viagens que realizei enquanto aqui estive são a melhor recordação que vou levar. As que fiz em território Angolano e principalmente as que fiz à África do Sul – ao Kruguer – e Moçambique e à Namíbia.

P.S. Escrito a 17 de Maio, sob o impulso de uma tristeza enorme, que depois se foi transformando em alegria ao falar com o Valter. Estamos a forjar projectos novos nas nossas vidas e isso deixou-me muito mais animada. Já diz o ditado: “Se te fecham uma porta, Deus abre-te uma janela”. VIVA A VIDA!!....

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pois, pois....

Destes quase 4 anos de Angola, na minha 2ª vinda por arrastamento, o que de melhor vou levar são, sem sombra de dúvida, as viagens que pude realizar, quer ao interior de Angola, quer à África do Sul – Kruger Park –, Moçambique e Namíbia. Não quero dizer que tudo o resto tenham sido só coisas más, mas as más suplantaram com toda a certeza as boas que existiram, principalmente depois de um assalto aterrador de que fui vítima juntamente com o meu marido e a que tivemos que assistir, tendo no entanto permanecido com VIDA.

Eu que dizia que até gostava do contacto com o povo, que tinha boas recordações desses contactos, que tinha conhecido outra realidade mas que também tinha ganho outra experiência e adquirido outros conhecimentos… hoje,… hoje já não consigo confiar em ninguém, acreditar em ninguém, e todos os que se acercam de mim me fazem medo e causam apreensão, pois só consigo ver potenciais agressores em cada rosto. Se calhar isto tudo é devido à pouca distância a que sofri este assalto, pois o tempo, pretendo eu, me vá acalmando estas horríveis sensações.

Não foi isto que eu quis levar de Angola, por certo teria continuado a querer levar as melhores recordações deste povo sofrido, mas esta situação (do assalto) denegriu profundamente todo o meu sentimento e é com profunda tristeza que vou deixar para trás esta terra que eu tanto amei!!... Onde vivi a minha adolescência com todo o seu encantamento, onde voltei agora, passados 30 e tal anos, e onde estava feliz, apesar de toda a falta de condições que o país tem.
Parto amargurada, triste e desanimada com tanto mal que aqui vivi. Mas como a minha memória é fraca, espero que me faça o favor de esquecer todo este mal e conserve apenas a recordação do bom, como é o caso do que indico acima – as viagens que pude realizar.

Apesar de tudo, só tenho que dar graças a Deus por me ter permitido viver este tempo em Angola, onde eu já não fazia ideia nenhuma de voltar. Por me ter permitido aprender tudo o que aprendi com estas experiências, tanto as boas, como as más… E peço-Lhe que me faça discernir o que Ele me quis dizer com toda esta vivência e que me indique o caminho a seguir daqui para frente.

Luanda, aos 15 de Junho de 2010.

Ana Bela