sexta-feira, 4 de novembro de 2011
E a Vera partiu para o Japão...
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Mais algumas das nossas visitas este verão....
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Em fins de Junho tivemos a visita da Linda e da Clarissa.....


sexta-feira, 29 de abril de 2011
Estatística - Censos - concluída dentro do prazo mas...
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Estatisticamente trabalhando....
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Ultimamente, alguns trabalhos.....
sábado, 29 de janeiro de 2011
"Angola, terra prometida" escrito por Ana Sofia Fonseca
“Angola, terra prometida” por Ana Sofia Fonseca
Introdução
Uma época é um lugar de (des)encontros. Tem espaço, tempo, gente dentro. Homens e mulheres. Personagens de um mundo que acabou, trazem Angola presa à alma. Cada um tem a sua história, juntas revelam o retrato de um período que ainda é uma noite escura. Desperta amores e ódios, guarda mistérios. É passado que marca presente, porque o mais e o menos pretérito não está inscrito no calendário, mas no interior de cada um.
Este livro é Angola. “Do tempo de antigamente”, quando Portugal era metrópole e esta apenas colónia. Fala dos anos cinquenta , sessenta e setenta – os mais intensos do colonialismo português. Tão festivos quanto violentos, brutais em todos os sentidos. Este livro traz o que faltava contar: a vida privada. Revive o dia-a-dia, episódios, usos e costumes. Modas, cenas de rotina. Está em casa, vai à rua. Caminha pela cidade, viaja pela mata. Este livro mostra a vida que os portugueses deixaram.
Do apogeu ao declínio, uma vertigem incontrolável. A década de cinquenta assiste à ida em massa dos colonos. Os anos sessenta são o epicentro de todas as mudanças: o começo da guerra, a euforia das festas, as nossas leis, o boom económico. Os anos setenta acenam adeus. Meio milhão de pessoas enfiadas na ponte aérea. Embarcam colonos, desembarcam retornados. Rótulo que lhes assenta como roupa demasiado apertada-muitos estavam em África há gerações, nunca tinham pisado Lisboa. Outros, tanto lá semearam vida, que por lá perderam raízes. Portugal não era a terra a que retornavam, mas aquela em que se refugiavam.
Esta é a história da véspera. De todos os dias anteriores, de todos os anos anteriores. Saudade é uma boa palavra, diz tudo. A baía de Luanda, os gelados do Baleizão, as praias de água quente, o cheiro da terra encarnada. O dinheiro, as amizades férreas, os criados de sobra. As mangas maduras, a rádio ousada, o sabonete Lux e o Life Buoy O dia quente de sol, a noite vestida de estrelas. O horizonte a perder de vista. A Cuca gelada, as festas de garagem, os slows. Os caricocos, o liceu, as lagostas, as costureiras de olho na Burda. Apanhar caranguejos, o primeiro amor. Manhãs a caçar elefantes, tardes a ouvir discos. A liberdade e a juventude. Os melhores anos.
Expressão curiosa, quase irónica. Salta da saudade de todos os que fizeram vida em Angola. Pronunciam-na com cuidado, num suspiro. Os melhores anos. Apesar de viverem paredes-meias com a guerra. Rodeados de gente sem acesso ao seu universo, tão perfeito quanto todas as redomas. A sua história é a da cidade do asfalto, fora dela fica a esmagadora maioria da população. É preciso tê-lo em conta, para não esquecer a dura realidade de milhões de pessoas. Para não reduzir Angola a um pedaço da sua verdade.
O mundo era outro. Os mapas e as mentalidades também. A minha geração é a primeira livre de amarras à ditadura e ao seu colonialismo. Cabe-lhe não cair em nostalgias, tão pouco em culpas por expiar. Olhar o passado à luz do seu contexto, sem saudosismos nem tabus. Falar de uma época não é fazer a sua apologia, é assumi-la.
Este é um trabalho jornalístico. Ao longo de dois anos, entrevistei mais de oitenta pessoas, entre Portugal e Angola. Muitas, então, chamadas colonos, algumas assimiladas; e outras, indígenas. Designações há muito abolidas. Foram, quase sempre, conversas longas, ultimadas no decorrer dos meses. Pedi-lhes as memórias, antes que o tempo as apagasse. Deram-me as biografias, os cheiros e as cores. O sal dos dias. São uma amostra da imensa multidão.
Muitos daqueles que deixaram Angola guardam o melhor da vida em fotografias amarelecidas. São angolanos, está-lhes no rosto, só não vê quem não quer. São angolanos de uma Angola que já não existe. De uma época, em que os outros angolanos não tinham nem as mesmas possibilidades, nem as mesmas alegrias. Mas um passado feliz é um grande amor. Como todos, tem muito de vivido e um tanto de sonhado. Assim, se as entrevistas foram ponto de partida e de chegada, pelo caminho somaram-se outras pesquisas. Nos arquivos descobri registos. Na imprensa, os sinais do tempo. Pedaços de uma época. Há gente nestas páginas.